O PROJETO CULTURAL DO ESTADO NOVO

Em Portugal, a liberdade criativa característica das primeiras décadas do século XX deu lugar a uma criação artística e literária fortemente condicionada pelos interesses do regime: 
  • evitar os excessos intelectuais que pusessem em causa a coesão nacional;
  • dinamizar uma produção cultural que fizesse propaganda à grandeza nacional.
Para controlar a liberdade criativa foi instituída a censura sobre toda a actividade cultural (os autores portugueses foram submetidos a uma autêntica ditadura intelectual). As preocupações com o controlo da produção cultural levaram os ideólogos do regime a conceber um projecto de intensa propaganda, com o objectivo de inculcar na mente de todos os portugueses o ideário do Estado Novo.
Para pôr em prática esta política propagandista do regime e de padronização da cultura e das artes foi criado (em 1933) o Secretariado da Propaganda Nacional - SPN (semelhante a instituições criadas por Mussolini na Itália e por Hitler na Alemanha). 
Para a sua direcção foi chamado António Ferro (após a publicação do seu livro Salazar, o Homem e a Obra), responsável pela doutrina desta política cultural, e onde se manteve até 1949.

António Ferro - Figura controversa, aos 19 anos foi convidado por Fernando Pessoa  para editar a revista Orpheu. O director de uma instituição controladora da liberdade criativa, mantinha relações de amizade com os grandes vultos do modernismo português mas ao mesmo tempo era um fervoroso simpatizante do fascismo (fascinado por Mussolini e pelos regimes autoritários da época). Mas as contradições não se ficam por aqui - quis afirmar Portugal internacionalmente através de um programa de desenvolvimento das artes, da literatura e das ciências, mas submetido às ideias conservadoras do Estado Novo, e afastado do projeto de vanguarda assente em ideias de criação modernista (tentava conciliar duas posições opostas, o conservadorismo e a vanguarda).

Pelo SPN passaram as realizações mais emblemáticas do Estado Novo: comemorações, salões de pintura, prémios literários, congressos científicos, exposições, inaugurações de grandes obras públicas, todas envolvidas em grande pompa e circunstância para ostentação da grandeza do regime. Outras, de carácter mais popular, foram a organização de festas, marchas, concursos e as comédias cinematográficas.
Para a realização de todo este programa de enaltecimento da grandeza nacional, o Estado contava com o apoio de intelectuais e artistas cujas produções patrocinava. Merece particular atenção a Exposição do Mundo Português (junho a dezembro de 1940), aproveitando as comemorações da fundação da nacionalidade (1140 - Afonso Henriques proclama-se rei de Portugal) e da restauração da independência (1 dezembro 1640), manifestação imponente da grandeza do império português, para incentivo do orgulho nacional e para a Europa se deslumbrar, numa altura em que estava envolvida na segunda guerra mundial.


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