O ENCONTRO DOS MUNDOS
O encontro entre as diferentes culturas, sociedades e economias produz múltiplos e desiguais efeitos em todo o planeta.
A Europa acelera o seu desenvolvimento graças à acumulação planetária de bens materiais e espirituais. A África vive um forte bloqueamento. As civilizações ameríndias sofrem o desmoronamento devido ao tipo de conquista territorial de Castela. As grandes civilizações asiáticas tendem cada vez mais, nos inícios do século XVII, para o isolamento.
Desenvolvimento, bloqueamento, desmoronamento e fecho são facetas da troca desigual que vai constituindo uma economia e uma cultura mundiais.
O Portugal dos Descobrimentos torna-se o Mensageiro do Mundo. É o horizonte informativo dos Descobrimentos que revela à Europa a verdade do continente africano e dos litorais do Oriente e da América do Sul, bem como as verdadeiras formas de ser dos africanos, dos asiáticos e dos ameríndios.
O horizonte informativo dos Descobrimentos produz uma revolução nas formas de vida, não apenas pelo conhecimento desvendado mas também pelas trocas operadas (a mandioca, a papaia e o ananás do Brasil para a África; o coco, a banana e a manga do Oriente para a África e para a América). Os Descobrimentos realizam também a universalização de produtos como o milho, a batata, o vinho, o chá, o tabaco...
A dimensão oral das culturas africanas e ameríndias torna bastante difícil a descoberta da forma como os portugueses são vistos por esses povos.
O mundo árabe, nas suas crónicas sobre os portugueses no Oriente, tem uma imagem de oposição radical mouro-cristão, vendo-nos como inimigos violentos.
Os chineses, que representam para Portugal o modelo de sociedade desenvolvida, vêem-nos como bárbaros de nariz grande e mal-cheirosos, "muito perigosos devido à sua artilharia e aos seus barcos".
Os portugueses surgem aos olhos do mundo como uma novidade e diferença, ora amigável, como no Congo ou em Cochim, ora inimiga.
Não Meças o Passado com o Presente (Luís de Camões)
Portugal surgiu definitivamente na civilização europeia pelas descobertas, e as descobertas são um acto cultural; mais que um acto cultural, são um acto de criação civilizacional. Criámos o Mundo Moderno.
(Fernando Pessoa)
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